O
malogro dos acontecimentos é que torna a voz um tanto quanto áspera. Contava
alguns anos do mesmo pesar e sofrer chegara a desconfiar mesmo se a justiça se
fazia cega ou por se enxergar é que era tão injusta ao passo de que tantos
episódios ruins findassem nunca. Antes e depois pra sempre e agora isso era o
que alimentava-lhe a alma já tão vazia de calma.Adormecer de fato sem nada
sonhar ou pensar era seu único desejo porém com o fechar das pálpebras
vinha-lhe logo o mesmo sonho enfadonho, dissipar-lhe o pouco de sossego que
tinha, Qual sossego! A mesma impotência de sempre “gigante pela própria
natureza”, sentia-se assim desde quando se deu por gente ou como gostava de
mencionar “ uma carcaça cheia do vazio dos outros”, não conseguira nunca
compreender nem mesmo ser compreendido dilemas diários eternos, condescendentes
e o mesmo devaneio de sempre lhe visitara a pedir de uma vez a alma vexada e
cansada da pobre carcaça. Contudo amava por demais e ainda mais um tanto tudo o
que tinha, sentia que não era notado, mas por demais lhe doer externar sentimentos então
guardava-os consigo e isso era toda sua essência; um eremita contemporâneo. Continha
às lágrimas publicas para então derramá-las em sua concha, não havia de
perturbar outrem com suas míseras gotículas salgadas, essa penitência lhe era
tão sua que já o fazia tão inconsciente quanto lhe era inconsciente respirar.
Por mais de uma vez quisera dar cabo de si, mas mesmo não sendo notado estimava
por demais os que amava que logo lhe ia embora tal ideia. Tentara remediar,
porém nem os mais altos alquimistas descobriram remédio para tal moléstia e com
ímpeto de virar as páginas de sua vida avidamente para ir ter logo um final
ainda que triste, mas deveras um final, pegara no sono, a luz acesa, ao lado da
cama a prata fundida em punhal; resoluta, esperando apenas que uma mão sem
governança lhe cravasse no peito matando enfim sua sede por sangue e
concomitantemente deixando esvair a alma calejada da pobre carcaça não menos
surrada.
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